Centro de Documentación da AELG
Carlos Oroza, Poesía da Inteligência.
López Bernárdez, Xosé Carlos
Autores/as relacionados/as:

     Carlos Oroza apresenta-nos uma nova amostra da sua voz singular, depois de En el norte hay un mar que es más alto que el cielo, no que recolhia uma porção importante do conjunto da sua obra e que foi editado em 1996, aparece agora  La llama prestada que é um aprofundamento do seu universo poético, uma poesia com um forte vestígio oral e duma perfeita construcción rítmica, que flui sem pausa mas que ao mesmo tempo intenta pesquisar na essência do mundo poético e nomeadamente na situação do poeta e do homem no mundo.
     La llama prestada  é um poema, como toda a obra oroziana , que, longe de qualquer tentação surreal, se dirige no fundamental à inteligência, a esse espaço no que o sujeito estranhado “canta y deduce” como afirma em afortunado verso. Porque na poesia de Oroza, a enorme sedução rítmica que domina toda a obra,  que não só se produz nos seus recitais, mas que se conserva na leitura dos textos, não debe fazer esquecer que o fundamento da sua poética é profundamente indagatório. O poeta que sustém o verso en permanente espreita para a captação do facto poético, não se limita a caçar os seus versos -como asseverava Vicente Huidobro da sua poesía-, mas que os constrói, num processo de funda reflexão, e acaba projectando a sua chama, a sua paixão reflexiva, em forma de cadências e ritmos, nos que o pensamento se alarga entre os versos en permanente vigília e ansiedade, a viver o poeta a hesitação perpétua, a se perguntar, para onde ir?, numa infinita sede de ser e compreender.
     O profundo mistério da poesia de Oroza está no desassossego e surpresa perante a vida e a criação, mas quando o poema surgir e rebentar, o poeta não se limita a o reproduzir, decerto continua a elaboração em construção perfeita, transformado, afinal, o queixume em eco prolongado, en força augural, telúrica. Aliás, dum telurismo inconcreto, mais vital que geográfico, que, como um vate de tempos primigénios, como um bardo ou rapsodo, nos invoca e convida:
Anda-ven-bendice-canta
     E leva-nos, em consequência, ao âmbito do canto que é também o território do contar, eis as duas chaves para interpretarmos -melhor que interpretarmos, comungarmos- com a obra de Carlos Oroza, cantar e contar, ritmo, cadência e reflexão, canto e dedução, em palavras do autor. Uma música da inteligência, um prazer tremente e convulso, como é a essência mais profunda do ser e da vida.

Carlos L. Bernárdez