Centro de Documentación da AELG
Mongólia nom poderia ter outro nome
setembro de 2001
Lugris, Igor
Autores/as relacionados/as:
Fonte: Revista Agália

Minte quem diga que neste país sobram livros, autoras/es ou editoras. O que faltam som leitoras/es. Minte quem diga que nom há público. O que faltam som pessoas conscientes de que a sua literatura é a literatura galega, e nom a espanhola. Minte quem diga que nom há mercado. O que faltam som mais livreiras/os e livrarias que nom encham os seus escaparates com livros espanhois, mentres relegam o livro galego a um andel onde amoream uns quantos livros (de viagens, infantis, de literatura, de história,...),etc. Minte quem diga que vivemos num país normalizado, ou quem actue como tal. O que falta é que nom aceitemos que o normal é perder falantes porque cadaquem livre e harmonicamente escolhe a língua que prefire. E quem actue como se viviramos num país normal sabendo que isso nom é certo é mais que um mentiroso: é um irresponsável. Já dixo Castelao que nom nos deveriamos de asombrar se os parvos chegam a ser autoridades: som cousas do sistema que combatimos e do tempo que nos tocou viver. Falta normalidade e sobra sub-normalidade; na literatura também.

Mongólia porque si, porque quero e da-me a gana. Mongólia para nós, para quem ainda acredita que um outro mundo é possível, para quem posue a plena segurança e convencimento de viver onde há que viver. Mongólia como galiZa, a Galiza do GZ, a Galiza do trisquel, que sabe onde está o centro do mundo e do universo. A Galiza que sabe que nom é umha aldeia de Portugal, como os idiotas (alguns deles académicos) rosmam por aí adiante: nos jornais, nas suas aulas, nas suas soporíferas e insufríveis charlas.

Mongólia é umha pequena guia de viagem, para achegar-se a um país nom tam distante, remoto ou afastado como algumhas pessoas pensam e outras desejariam. Nom é a longinquidade o que caracteriza esta Mongólia, esta pequena entidade estatal rugosóide, vista desde a Galiza, mas a sua proximidade às esperanzas, às utopias, aos sonhos, aos anseios e desejos, aos amores e desamores, às querências e às reticências de tantas pessoas que sabem que o realmente imaginativo e transformador nom é pedir o impossivel, mas construir aquilo que é necessário. Mongólia nom poderia ter outro nome. Tem o nome justo. Um redondo vocábulo.
Redondo, limitrofe e eufónico. Quem nom entenda nada do que digo, escusa colher o livro. Há uns meses, no "Galego no mundo. Latim em pó", no apartado de literatura vári@s escritores/as diziam escrever para transformar o mundo: que grande mentira.

Grave, agudo e esdrúxulo. Para transformar o mundo, o que há que fazer é participar em organizaçons que tenham tal fim entre os seus objectivos estratégicos irrenunciáveis. É assim que é possível um trabalho útil para a transformaçom do mundo, mediante umha revoluçom social, que consiga que a humanidade viva livremente e nom escravizada.

Sobre todo esdrúxulo. Desconfio sempre a priori de quem di que coa literatura pretende transfomar o mundo. A maior parte das vezes som pessoas que nom estam dispostas ao mais mínimo sacrifício pessoal, nem a arriscar o mais mínimo em pro dessa transformaçom que dim pretender. É umha postura estética, tras da que nom existe mais que o absoluto despreço polo compromisso. Umha fachada que se emprega para intentar ocultar que nom se fai absolutamente nada pola transformaçom do mundo, e que se perpetua o sistema imperante e se reproduzem os privilégios e roles pre-existentes.

Paralelepípedo e intrigante. Acredito na literatura, e em geral no poder da palavra, mas nom lhe confiro poderes sobrenaturais e milagrosos: nom som as palavras as que transformam o mundo, a realidade, a sociedade, a estrutura social concreta na que cada quem vive, mas os factos. As acçons dos homes e as mulheres som as que movem o mundo. Nom é coas palavras coas que podemos mover o mundo, mas fazendo força sobre a palanca que, colocada sobre um ponto de apoio, nos vai permitir mover o mundo. O enunciado desse frase nom move o mundo, realizar a acçom que predica si.

Por condensá-lo numha frase bem conhecida: @s escritoras/es nom figerom mais que interpretar o mundo; agora do que se trata é de transformá-lo.
Por tanto: para que Mongólia? Para interpretar o mundo. E entre os significados que de interpretar dá o dicionário está "explicar o que há de obscuro e de confuso", "esclarecer", "traduzir",... É isso é o que cumpre fazer: umha literatura que interprete, explique, esclareça, traduza,... o mundo. Porque, como di Justo de la Cueva no seu livro Negacion vasca radical del capitalismo mundial, "(...) no mundo capitalista as cousas nom som o que parecem ser. Mais ainda: as cousas parecem ser o que nom som". Durante algum tempo houvo, haveria, quem lhe quijo chamar albánia.

Mas aquelas madrugadas nom reuniam todo o que se procurava. É necessário escrever para interpretar o mundo. E cumpre interpretá-lo para transformá-lo. Mas a literatura nom é a luita. Cumpre ter isso claro, para nom confundir as cousas, para nom acabar pensando, como di Sílvio Rodríguez, que "desde un amable festin también se ve combatir".

E é necessário este compromisso coa transformaçom, é necessária a interpretaçom do mundo porque, como di outra conhecida frase, sem teoria revolucionária nom existe movimento revolucionário. Por tanto, sem literatura revolucionária nom existira movimento revolucionário. Pouco durou aquel empenho.

É possivel fazer isto na literatura galega? Umha literatura que cada vez mais resposta às claves e às necessidades espanholas, que vive de costas ao seu espaço natural e dependendo dum sistema literário, o espanhol, que tan só pretende fagocitá-la. Umha literatura que poderia estar feita em Múrcia, ou em Almeria (alguns quijeram fazé-la en Nova York), só que escrita formalmente em galego, é literatura galega? Umha literatura que, em todo caso, sobrevive nas pequenas margens que a literatura e a cultura dominante -a espanhola- deixa: nas livrarias, na imprensa, nos planos de estudo, nas actividades culturais, nas pantalhas do cinema, nos meios de comunicaçom, no reparto de ajudas e subvençons, ...

Sempre será Mongólia, Mongólia. O galego subsiste a duras penas: os dados dos estudos socio-lingüísticos apontam a umha progressiva perda de falantes (sobre todo de falantes nov@s), que situa actualmente à lingua galega no pior momento de toda a sua história, em quanto a número de falantes e espaços sociais nos que está presente e é preponderante. Pode a literatura viver de costas a esta realidade e aparentar ser umha literatura normalizada? Podem @s escritoras/es mirar para outro lado e viver na inconsciência premeditada, mentres cobram a suas cativas subvençons, vendem, ou malvendem, os seus livros, e assistem a ágapes, tertúlias, conferências e demais parafernálias culturais? Podem @s escritores/as ignorar isso e falar de passarinhos, florezinhas e belos amenceres a carom do mar coa água salgada dos sargaços salpicando os seus olhos e a lua a despedir-se dumha outra noite de saudades e meditaçons transcendentais?

Pretendo umha poesia, e umha literatura, útil, ao serviço da humanidade, e nom ao serviço da "busca da beleza porque é o único que paga a pena". Isso é reaccionário. A beleza nom é nem mais nem menos importante que o resto da realidade. A dignidade rebelde dos povos que luitam pola sua liberdade nem sempre cria beleza, mas é muito mais importante que as patéticas obras de arte da burguesia decadente que, convencida do fim da História, só sabe dar voltas ao redor de si mesma mentres se mira o embigo.

Por isso Mongólia e por isso Artefacto Editorial. É umha metafora. É umha metonímia. É umha brincadeira. Igual que sempre a água tem hidrogénio e oxigénio em justa proporçom.

 

Compostela
19 de Setembro de 2001