MAR PARA TODO O SEMPRE
Henrique da Costa
Ed. Laiovento, Santiago de Compostela, 1992
Mar Para Todo o Sempre é uma singela narrativa, possuída de leves imbricações sincrónicas, cujo fulcro parece ser a expedição/aventura de Alvaro de Mendanha á "Terra Australis Incognita", no ano de 1595. No entanto, a leitura levar-nos-á a um registo onde a anacronia se inscreve, afinal como diacronia estrutural cujo tecto de perspectiva cobre o verdadeiro fulcro desta pequena novela e que reside, então, nas relações tidas nos actuais tempos (que funcionam paralelisticamente com as relações de Alvaro de Mendanha com Isabel, não havendo, nesta, variante ao nível nominal) por duas personagens, mais suas lineares capacidades de desdobre: uma galega de Santiago de Compostela, de nome Isabel Ledo Bieites e um alentejano de Estremoz, de nome Pedro Alves Ferreira.
O encontro entre ambos é-nos proporcionado através de uma objectiva naive e adolescente, ou se quisermos semi-aventurosa, talvez com intensão de incutir no leitor um gosto juvenil ao qual a aventura é maioritariamente associada. O espaço físico do encontro situa-se na biblioteca de Évora onde ambos procedem à busca de material para as suas particulares investigações sobre as navegações ibéricas seiscentistas (de onde Alvaro de Mendanha) e onde, acidentalmente, se topam. Este acidentalmente é mesmo acidente —funcionando, na narração, como uma espécie de "gag" de registo igual ao do sistema visual. Assim, a galega Isabel está em uma escada de consulta de livros, quando o alentejano Pedro tropeça na dita, originando o 'acidente' de que resulta o conhecimento mútuo. Deste encontro decorre toda a estória que se intersecciona com a aventura de Alvaro de Mendanha.
Assim, Mar Para Todo o Sempre é uma narração simples, sem uso de qualquer estilismo destacável, podendo notar-se, por parte do autor, uma grande preocupação concernente à coeréncia da estória e à escorreiteza linguística do discurso. Não sabemos se se trata da primícia de Henrique da Costa neste género literário. Em caso afirmativo, tal debutar parece-nos positivo e esperaremos pelo próximo título para podermos fazer um juízo mais denso sobre a sua escrita.
De sublinhar, entretanto, o contributo das Edicións Laiovento aos escritores galegos em particular e à Língua Galaico-Portuguesa em geral. Aqui está uma maneira, das mais excelentes, de aproximar povos que a fala nunca desuniu.
Alberto Augusto Miranda